MATADENTRO

Bem vindo ao Parque Linear ou Trilho do Bonde, também conhecido como Caminho do Bonde ou Parque Linear dos Ribeirões Pires e Cabras. A trilha recupera o percurso da ‘Cabrita’, apelido dado carinhosamente à Maria-Fumaça do antigo Ramal Férreo Campineiro, que mais tarde virou bonde. O percurso tem uma extensão de 6km, é relativamente plano e permite aos frequentadores conhecer relíquias das antigas instalações da ferrovia, como a Ponte Metálica, sobre o Rio Atibaia.
A trilha é leve e toda família que gosta de andar a cavalo, caminhar, pedalar ou almoçar no meio do mato, pode frequentá-la. O local integra os núcleos urbanos dos distritos de Sousas e Joaquim Egídio e está dividida em três trechos: entrada de Sousas até a Ponte Metálica; da ponte até a entrada de Joaquim Egídio e de Joaquim à Estação Ambiental, no próprio distrito. Neste último trecho, que é o retrado em todo esse trabalho, é proibida a entrada e circulação de carros. Anualmente, o Departamento de Turismo promove duas edições da “Caminhada Ecológica de Sousas e Joaquim Egídio”.
Dentre as contribuições do Parque estão:
· Proteção do meio ambiente e preservação da memória sócio cultural;
· Conservação do patrimônio histórico: leito, do antigo rama férreo, Ponte Metálica, de Sousas e edifícios históricos;
· Difusor da educação ambiental, da história e da cultura dos distritos;
· Equacionamento do problema de trânsito e falta de estacionamento na área central de Sousas (centro histórico), viabilizando novos locais para feiras, festas e demais atividades.
Daqui para frente, meu caro: boa caminhada!
Recordar é viver
Não poderia começar essa história sem falar da antiga linha do bonde, que teve grande importância para os distritos de Sousas e Joaquim Egídio e, também para a população. Hoje é vivo apenas na lembrança de antigos moradores e pessoas dispostas a levantar toda memória do local. Todo bate papo que compõe todas as partes do trabalho foi recheado de saudosismo, orgulho e carinho. Espero que você leitor, consiga embarcar comigo nesta viagem pelo tempo, que sua curiosidade seja despertada e que ao fim, perceba a importância de manter viva a história de grandes centros e também dos cuidados que devemos ter com nossas áreas verdes. Bem vindo!
Pelos trilhos andou uma ‘Cabrita’
“O bonde é um velho com alma de criança”
Claudia Esmeriz
A estação de Joaquim Egídio, ou ponto de parada da “cabrita” para os mais íntimos, foi como ficou conhecido o trem que percorreu o Ramal Férreo Campineiro até 1917, e do bonde que até os anos 60 circulou pelo distrito. O custo total da obra foi de cerca de 1.290:000$. Quatro anos mais tarde, em 20 de setembro de 1984, foi realizada sua primeira viagem.
Os idealizadores foram os fazendeiros, Paulo Machado Florense e Dr. Inácio de Queirós Larcerda. Em meados de 1989 surgiu a ideia de criar um ramal ferroviário que ligasse as suas fazendas, a de Cabras e do Dr. Larcerda, situadas na região de Joaquim Egídio à estação ferroviária de Campinas. O objetivo a princípio, era facilitar o escoamento da safra de café, que até então ficava restrito apenas ao transporte de tração animal.
Logo após sua implantação, o trem passou a ser utilizado tanto para o transporte de pessoas como de carga e caiu nas graças da população. De acordo com a educadora ambiental, Claudia Esmeriz, esse meio de transporte era mais eficiente. “Era mais eficiente para transportar passageiros e aos poucos começou a substituir outros tipos de transporte de tração animal, pois não produziam aqueles trancos desconfortáveis”. De tão querido, foi carinhosamente apelidado pelos usuários de “cabrita”. Claudia explica que o motivo do apelido pode estar relacionado aos trancos e balanços dos vagões ou uma referência ao nome de uma fazenda. “Talvez pelos trancos e balanços que se sentiam nos vagões, a bitola era pequena, né? Mas é mais certeza pela referência ao nome da fazenda Cabras, que era o final de linha”, conta.
O Ribeirão das Cabras, afluente do Rio Atibaia, corta a região de Sousas e Joaquim Egídio. A ferrovia o margeava em grande parte de sua extensão. A empresa tinha na época, quatro locomotivas à vapor, onze carros de passageiros e vinte e quatro vagões de carga.
Mas infelizmente, tudo o que é bom um dia chega ao fim. Em 18 de Março de 1917, como já não era mais viável manter os trens do R.F.C em atividade, a CCTL&F decidiu comprar a empresa e desativar definitivamente a linha. Para Claudia, este foi o fim da "cabrita", 23 anos após sua primeira viagem. O fim que balançou os moradores e usuários.
Como alternativa, um serviço de bondes, ligando Campinas à fazenda Cabras começou a ser elaborado e para isso a empresa encomendou da J.G. Brill em 1919, o "bondão", apelido dado a ele por ser bem maior que os bondes abertos que atendiam na área urbana. A especialista lembra-se de um dado importante. “Num país sem nenhuma tradição e tecnologia, a eletrificação do R.F.C. foi antes até da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, empresa muito mais rica, isso já é um marco importante, né”.
O trajeto começava na estação da Cia. Paulista, que de lá seguia pela Av. Andrade Neves em Campinas, depois passava pelo bairro Guanabara e por último, adentrava a zona rural, passando pela fazenda Vila Brandina, situada pouco antes da estação Eng. Cavalcante, que na época foi uma das mais importantes fazendas de gado leiteiro da região. Na fazenda havia uma parada com plataforma simples e descoberta.
Com a aposentadoria dos trens e o início dos bondes, o ramal de Santa Maria - Dr. Lacerda - não foi aproveitado. Em outubro de 1939, foi oficialmente desativado.
Por muito tempo, a estação de Joaquim Egídio ficou em ruínas, com exceção de seus alicerces e a caixa d'água. Apenas um antigo armazém que ficava atrás da estação ficou em pé e hoje abriga um restaurante. A estação foi totalmente restaurada e entregue em 22 de setembro de 2000, pela empreiteira responsável pela construção do gasoduto Brasil-Bolívia, que passa a cerca de 200 metros da estação.
Aos andarilhos – fé e devoção
“Manhã de sol, gotas de orvalho penduradas nas folhas. Nas flores. Parecem brincos cintilantes adorando os caminhos, a mata. As flores exalam perfumes. Cheiro da terra. Cheiro da vida. Cantam os pássaros, bailam as borboletas. Os riachos murmuram em risos pela manhã de sol. Uma bênção. No caminho a capela da Santa Rita. A oração, o encontro alegre com os amigos, outra bênção. Aqui o meu lugar. O nosso lugar. Amém”.
Grupo turma do Zagaia
Pronto, agora que estão familiarizados com a história da linha férrea, quero que caminhem comigo por essa trilha. Quem anda por ali, com certeza não deixa passar despercebida a Capela de Santa Rita. Um local que vibra boas energias e acalento. Um sinal da cruz, uma parada rápida e uma prece de bom dia para longa caminhada. Posso dizer que para aqueles que passam por ali, proteção não falta.
A capela foi idealizada por um grupo de 15 sócios do Clube de Campo Irapuã conhecido como “Andarilhos do Irapuã”, que segundo o antigo presidente, Osvijomar Seixas Queiroz, foi inspirado por um dos membros que toda vez que por ali passava, cantava um hino em louvor a Santa Rita. A capela foi construída com a colaboração de vários voluntários e inaugurada oficialmente em 1988. Uma oração do Santo Terço, em frente à capela, deu inicio as atividades que perduram até hoje.
O pedreiro José Frizarini, 75 anos, se orgulha até hoje por poder ter colaborado com a construção da capelinha. “Está vendo essa estrelinha que tem aí? [apontando para uma estrela colada em cima da capelinha] Fui eu que fiz. Tudo isso aí, foi levantado por mim. Até hoje venho aqui orar e pedir bênção”.
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Turma do Zagaia ou da “pré morte”
Fazer aquilo que você gosta, é liberdade;
Gostar daquilo que você faz é felicidade.
Turma do Zagaia
A turma nasceu de forma espontânea no inicio da década de 1990 entre os amigos e devotos de Santa Rita de Cássia. O grupo desde então zela pela capelinha, todos os dias, mas é aos domingos que os encontros são mais gostosos. Os senhores proseiam, fazem piquenique e oram. E de onde veio o nome zagaia? Sr. Seixas explica. “As pessoas têm o costume de se referir a tudo o que é antigo como zagaia. ‘Ahh... Isso era do tempo do zagaia’... Como somos todos idosos, combinou. E diziam também que uma lança de caçar onça”.
Para José Antônio Gobbi [o mais brincalhão da turma] podemos chamá-los também de “turma da pré-morte”. São eles que carinhosamente em conjunto com a comunidade São Joaquim/ São Roque organiza as missas.
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A primeira Santa Missa a gente nunca esquece
No dia 22/05/1999 por iniciativa da Turma do Zagaia, o Padre Pachoal Brazilino Canôas celebrou a primeira missa de muitas outras que viriam posteriormente. Uma curiosidade lembrada por Gobbi, é que para que a primeira missa fosse lembrada de forma significativa, foram plantadas duas mudas de árvores: Mirindiba Rosa e Pau Ferro que hoje compõe o cenário verde exuberante do local.
O último não é o menos importante
Depois de andarmos um pouco mais pela trilha, chegamos ao destino final, a Estação Ambiental de Joaquim Egídio, inaugurada em 2001. Localizada na Rua Manuel Herculano da Silva Coelho/ distrito de Joaquim. O objetivo é conservar e proteger os ecossistemas naturais necessários à manutenção da vida.
As atividades oferecidas no local mediante agendamento prévio são:
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Parada ambiental: visitas monitoradas para a valorização e conhecimento do entorno e saberes do local;
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Dedo de prosa: encontro entre moradores e comunidade geral para resgate de memórias do local e integração;
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Roda de conversa: encontros mensais com educadores e comunidade para reflexão sobre as questões ambientais locais e globais;
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Oficinas: música, teatro, dança – reaproveitamento de materiais recicláveis, entre outros;
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Exposições: educativas e informativas sobre a história e meio ambiente.
De acordo a educadora ambiental Márcia Bueno, a reconstrução da Estação foi dada para servir como um centro de educação ambiental. “Ela foi reconstruída como uma lei de compensação ambiental pela Petrobrás, porque eles passam o gasoduto na trilha e como abrange uma grande área da APA [área de proteção ambiental]. Devido ao grande impacto ambiental, eles reconstruíram a estação para ser um referencial de educação ambiental”.
As atividades carro chefe são a parada ambiental e oficinas ambientais voltadas para assuntos relacionados à sustentabilidade. O foco principal é trabalhar com a comunidade local e de Campinas. Para Márcia, o trabalho gera uma satisfação enorme. “Apresentar esse espaço para alunos que às vezes vem de outra realidade, um lugar cheio de casas, prédios e ocupações, tentamos mostrar para eles que isso também é Campinas (questão do pertencimento), todos podem estar juntos e não só os moradores”.
Uma curiosidade que a especialista nos contou, é que muitos moradores questionam como uma casa pode ser construída em uma área de reserva ambiental. “Área de proteção ambiental, pode morar sim. Só muda no sentido de outros locais que não são protegidos, é que aqui algumas orientações específicas de uma APA devem ser seguidas, não é clandestino”.
Uma conquista para o local é que agora a Estação será formalizada como um centro de educação ambiental. “Agora nós fazemos parte desse movimento, na Secretaria do Verde, vai formalizar o centro de educação ambiental da secretaria ambiental de Campinas”. Quando isso acontecer, o local receberá toda uma estrutura, até com mais recursos. A equipe provavelmente será maior. Até agora ele tem funcionado com iniciativas de pessoas, o decreto é para que isso ocorra ainda esse ano.
Roteiro disponibilizado pelas educadoras que mostra o trajeto da trilha
Praça: Arthur Geraldo Vicentini
Ir para a praça fazer alongamentos, duração de no máximo 10 minutos;
Trilha ou linha
a. Antiga linha do trem
b. APA – Área de Proteção Ambiental, instituída na Lei Municipal 10.805/01, ela é destinada a conservação e proteção da fauna e flora local.
c. A temperatura na trilha é menor, devido às arvores que trabalham como isolantes térmicos, esfriando o local.
Primeira Parada
Chácara, mostrando que a APA, permite a ocupação humana, ela não impede o desenvolvimento da região, porém, existem regras especificas para o desenvolvimento nessas áreas.
Segunda Parada
Ribeirão das Cabras, esse rio é nomeado assim devido ao relevo do local, que no passado era favorável para criação das cabras. Em alguns pontos do rio, a mata ciliar é precária, devido a alguns moradores locais, que há alguns anos atrás possuíam criações de gados, que compactavam o solo ao redor do rio.
Terceira Parada
Baia do Fabiano, ponto de Ecoturismo, mostrando novamente, que a APA também permite o turismo no local.
Quarta Parada
Faixa de dutos, foi licenciada em 2002, tem cerca de 21,6km,
- Passando nos municípios de Paulínia, Jaguariúna, Campinas, Morungaba, Itatiba, Bragança Paulista, Atibaia, Boa Jesus dos Perdões, Nazaré Paulista, Santa Isabel, Mogi das Cruzes e Guararema,
- Nele passa óleos combustíveis, óleos, produtos pesados, e são enviados para a Bolívia para atender as termelétricas da Petrobras e para iniciativa privada.
- Alguns impactos causados foram erosão e destruição do relevo rochoso, trazendo danos a fauna, devido a barreira de faunas, que em muitos pontos, impede a passagem dos animais, e trouxe danos a flora local.
-Lei de compensação ambiental: para compensar os danos ambientais causados, a Petrobrás, reconstruiu a Estação Ambiental.
Quinta Parada
Bambuzal espécie muito resistente e cresce de forma selvagem; toca dos animais.
Sexta Parada
Pau d’alho, sua principal característica é seu forte cheiro de alho.
Sétima Parada
Capela Santa Rita de Cássia, A capela de Santa Rita de Cássia na trilha de Joaquim Egídio foi criada por um grupo de pessoas que caminhavam e rezam o terço naquela localidade. Resolveram então colocar uma imagem da santa e construíram a capela em 1988.
Oitava Parada
ETE: Ribeirão das Cabras, devido a Estação Tratamento de Esgoto, houve um crescimento na fauna local.
E por último, Claudia e Márcia pediram gentilmente para frisar o pertencimento da comunidade em valorizar a história local (cultural/ambiental).

Tudo o que é bom chega ao fim
“Tudo o que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível”.
Fernando Pessoa
E chegamos ao fim de uma longa caminhada. Espero que tenham curtindo tanto quanto eu descobrir uma história tão rica e importante de um lugar bem próximo a nós. Foram longas pesquisas, conversas e leituras para compor todo o material que vocês puderam compartilhar comigo. Agradeço imensamente aos entrevistados por terem dedicado algumas horinhas para me atender. Obrigada pelos relatos, pelas fotos, pelas risadas e principalmente pelo aprendizado. Aos leitores, obrigada pela paciência!
Fim!

Educadora ambiental Cláudia Esmeriz

Gobbi e Seixas da primeira turma do Zagaia

Educadora ambiental Márcia Bueno

José Frizarini, pedreiro que construiu a Capeta de Santa Rita
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